06/05/2012

Viver com quem não se conhece

Não tenho tido muita sorte com as pessoas com quem divido casa. Para quem não me segue há muito tempo, já estive na universidade no ano passado mas desisti e mudei de curso, para outra. No ano passado vivia com duas raparigas mais velhas que pareciam "pegadinhas" com as limpezas. Mas nem sequer havia divisão de tarefas nem nada; aliás, nem sequer havia comunicação naquela casa, era só "bom dia" ou "boa tarde" e pronto. Nem elas duas estavam em sintonia uma com a outra: quando tinha ido viver para lá, tinham dito que o sábado era o dia das limpezas, mas, depois, vi uma a limpar às sextas-feiras e a outra a limpar no sábado. Depois foram fazer queixinhas à senhoria, a dizer que eu nunca limpava nada. E nem vieram falar comigo primeiro! Nem me diziam o que queriam que eu limpasse! Como é que eu podia adivinhar? Acabei por me ir embora dali. Não estava para aturar aquilo.
Quando vim para cá, foi um alívio ver que a minha colega de casa era simpática e que não havia um dia específico para as limpezas. Mas...passei de uma casa de maníacas da limpeza para uma de uma porquinha.
Às vezes passo-me por causa da rapariga. Passa a esfregona no chão e deixa a água no balde - que acaba por ficar meia verde e que eu é que tenho que a despejar porque, por acaso, olho para lá e vejo que tem água dentro -, abre uma lata de cogumelos, milho, atum ou seja do que for no lava-loiças e, se cai para lá um cogumelo, milho ou um bocadinho de atum, ela não sabe pegar naquilo e meter fora, não faz reciclagem - nem com os ecopontos à porta do prédio - e, por isso, mete tudo no lixo e nem tem o cuidado de espalmar as coisas, pelo que o lixo fica cheio num instante por causa dela, etc. Às vezes estou cheia de fome e, como a cozinha é muito pequenina, tenho que esperar que a menina grelhe a carne ou o peixe para eu depois ir comer. Detesto quando ela grelha peixe. A cozinha fica a enjoar até dizer chega. Mas parece que ela nem nota o cheiro; até já deve estar habituadíssima àquele cheiro, porque uma vez ela grelhou peixe e foi sair, sem sequer lavar o cabelo nem nada; ou seja, foi sair com o cabelo e com a roupa a cheirar a peixe. Como já disse, ela deve estar tão habituada ao cheiro que nem notou. Mas eu noto sempre. Por isso, sempre que ela faz peixe, lá tenho eu que ir com o ambientador para a cozinha. Caso contrário, não dá para estar ali dentro. E quando ela entra na cozinha e eu estou, ou estive, a cozer massa, arroz ou a fazer outra coisa qualquer? Vem com aquelas frasezinhas do tipo "Ah, então, a cozinhar?" ou "Ah, estiveste a usar tachos!", e eu lá tenho que fazer um sorrisinho forçadíssimo, porque isso já me chateia. Muitas das vezes vou ao take-away, mas isso não quer dizer que não saiba fazer nada. Deve ter mania que ela é que sabe cozinhar...ela nem sabe, só grelha carne ou peixe. E faz arroz, mas parte dele fica colado ao tacho. A mãezinha nem lhe deve ter ensinado a deixar os tachos, frigideiras e etc. de molho em água quente, porque ela, quando vai lavar essas coisas, esfrega, esfrega, esfrega e a pobre da esponja fica preta! Depois usa sempre uma quantidade exagerada de loiça... Às vezes chego a casa e está o lava-loiça cheio de loiça dela. E quando a loiça está a secar? Mal tenho espaço para pôr a minha! E, quando a minha já lá estava, fica perdida no meio da dela. Muitas das vezes a loiça dela já está mais do que seca, mas continua ali a ocupar espaço. Apetece arrumar aquilo tudo. Se calhar arrumava, se soubesse onde ela a arruma...
Nós aqui temos uma escala de tarefas: uma de nós limpa a cozinha e a outra o corredor, e trocamos todas as semanas. Mas nessa escala há uma coisa que eu considero uma paneleirice: levar o lixo para fora. Tal como os ecopontos, o contentor fica à porta do prédio, por isso, se o lixo estivesse cheio e se uma de nós fosse sair, pronto, levava o lixo. Não era preciso haver alguém responsável por isso, penso eu... Vejam só o que ela faz por causa dessa paneleirice: tira o saco do balde, deixa-o ali ao pé do balde e vai-se embora. Eu, que só vou sair de casa mais tarde do que ela, é que tenho que levar o lixo porque aquela é a minha semana. Tipo...é que não custa mesmo nada pegar naquilo, deixar no contentor e seguir caminho. Oh, e esperem. Quando ela tira o saco do lixo do balde, nem se dá ao trabalho de meter lá um saco novo. E, se mete, nem sequer o sabe meter - o saco fica caído no fundo do balde. Uma vez, deixou o saco junto ao balde, e estava aberto. Olhei lá para dentro e disse - sim, porque eu falo sozinha frequentemente - "Ainda cabe tanto lixo aqui dentro; por que é que a gaja já quer levar isso lá para fora?! Ela que leve se quiser; eu cá não vou levar". Nesse instante olhei para a escala de tarefas. "Ah, esta é a semana dela. Agora é que não o levo de certeza". Só no dia seguinte ou no outro a seguir é que ela levou o lixo para fora.
É preciso mesmo ter pachorra. O pior é que não tenho lata para chegar ao pé dela e dizer-lhe essas coisas. Se vivesse aqui mais alguém e se esse alguém concordasse comigo, já era outra coisa. Só vos digo uma coisa: se, no próximo ano, vier mais alguém para aqui - há um quarto vago aqui no apartamento -, não sei como é que vai ser, uma vez que a "madame" toma conta da cozinha quando lá vai. Se eu por vezes mal tenho espaço para pôr a minha loiça, então como é que vai caber ali a loiça de três pessoas? Ah, e ainda vos digo mais...ainda bem que não partilho a casa-de-banho com ela - ela tem uma no quarto. Se com a cozinha já é o que é, então nem quero imaginar como seria com a casa-de-banho... Se a rapariga vivesse sozinha, podia fazer as nojeiras que quisesse. Mas não vive. Acho que, no mínimo, devia ter um bocadinho de respeito.

2 comentários:

  1. Ai, ai... Olha boa sorte! Começa a agir como ela, pode ser que ela note... E mude! Quem sabe... Ou tenta falar com ela...

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  2. Boa sorte com isso. Realmente ela devia ter um pouco mais de respeito com quem partilha a casa

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