02/06/2012

Percurso académico ou Meios grandes vs pequenos

E acabou o segundo semestre. Nem parece...tive teste e ainda vou ter que estudar...mas pronto, não há mais aulas, já não é mau. Como já disse algures noutro post, desta vez não pensei uma única vez em desistir do curso. Sinto-me muito melhor agora do que no ano passado.
No ano passado estava noutro curso. Não fazia a mínima ideia do que queria seguir - e sinceramente ainda não faço -, mas diziam-me que o curso tinha muita saída e que era muito giro. Era, era...tão giro que o detestei. Talvez se tivesse vindo logo aqui para o Porto podia ter gostado, sei lá. Nunca saberei. Mas permaneci lá no arquipélago, mudei apenas de ilha. Pensei que me daria melhor num meio pequeno do que aqui no continente. Que aqui seria muita gente e muita confusão, muitos "cães a um osso". Pensei que lá, numa turma pequenina, me sentisse melhor, mais integrada. Que todos naquela turma se conhecessem bem e se tornassem num grupo coeso, uma espécie de família. Mas enganei-me. Redondamente.
Detestei aquela ilha, tanto que acho que nunca mais vou lá pôr os pés. Fui de cavalo para burro; para um sítio onde não havia quase nada para fazer. Detestei praticamente tudo: o sítio, o curso, a universidade - se é que aquilo se pode chamar universidade, uma vez que a minha escola secundária consegue ser maior do que aquilo -, alguns professores e os seus métodos de ensino. Nem sei por onde começar. É engraçado que, quando lá cheguei, tive uma sensação estranha. Senti logo que aquilo não era para mim. Quis ir-me embora assim que lá pus os pés. E, passados uns dias, ainda mais vontade de me ir embora me deu. Houve um breve período em que essa vontade acalmou um pouco, mas depois voltou. Vim a descobrir que detestava estar fechada num laboratório, especialmente a fazer coisas que eu nem percebia para que iriam servir ou que conclusões se podiam tirar delas. Não gostei que alguns profs estivessem sempre "em cima" de nós - não nos deixarem sair a meio de uma teórica, por exemplo, ou quererem ver o nosso caderno de laboratório para depois o avaliarem. Parecia que estava a voltar à primária, e não estava a gostar nada disso.
Mas também não gostava da própria universidade, do facto de ser tão pequena, que toda a gente se conhecia de vista e sabia o nome ou o curso de praticamente toda a gente. Um boato era capaz de se espalhar ali num abrir e fechar de olhos. Sentia que não havia...grande privacidade. E esta foi uma das grandes diferenças que notei ao vir para cá. Vêem-se sempre pessoas diferentes e ninguém, a não ser aqueles com quem te dás melhor, sabe da tua vida. Uma pessoa pode ser ela própria sem ser julgada. Pode fazer o que bem entender ou vestir aquilo que quiser. Ninguém diz nada e ninguém espalha rumores. E eu adoro isto. Mas outra das grandes diferenças foi o facto de, quando cheguei cá ao Porto, me perguntarem se queria, ou não, aderir à praxe.
Estranhei bastante aquilo, mas achei muito correcto. No ano passado, ninguém perguntava a ninguém se queria aderir à praxe: partiam do princípio que toda a gente queria aderir. Eu aderi porque pronto, fui experimentar. Além disso, só ouvia dizer que a praxe servia para nos sentirmos integrados. E eu, com esta ideia, fui. Mas não me senti nada integrada. Eu, por natureza, sou um tipo de pessoa que não gosta de receber ordens, ainda para mais ordens parvas. Muitas das vezes, fiz aquelas coisas a fazer frete. E também não suporto que me digam o que devo ou não vestir. Sim, porque cada praxezinha tinha um tema e vestíamo-nos de acordo com ele. Mas, mais estúpido do que isso, era não poder ir para as aulas de cinto, acessórios, relógios, ténis com atacadores, etc. Ora, eu sinto-me meia "despida" sem relógio. Não consigo passar um único dia sem usar um. E também não consigo andar sem cinto. Usei-o na mesma, todos os dias. Mas as blusas tapavam-no sempre, de modo que ninguém reparou.
Ora, acabei por desistir da praxe. Fartei-me; achava aquilo uma estupidez e uma perda de tempo. Só gostei de três. Gostei da segunda, que foi um peddy-paper pela cidade e foi engraçado. Gostei de uma em que nos vestimos de um cantor à nossa escolha. Escolhi a Amy Lee mas não fiquei nada parecida, uma vez que fiz uma versão improvisada com coisas que tinha em casa e ainda usava óculos. Mas esta foi muito gira. Foi pouca gente, ou seja, pouca confusão, e os jogos foram engraçados. Não fiz frete. A que mais gostei...foi a que não recebi ordens nenhumas. Exacto: andámos um grande bocado com latas nos pés até uma festinha de uma freguesia e depois ficámos por lá, na festinha, a fazer o que bem entendêssemos: comer, conversar, ver as tunas...adorei xD Mas acabei por desistir porque já estava farta de ter que sair de casa tanta vez para ir aturar os "doutores" com as suas merdices. E também porque implementaram uma semana negra na universidade...não interessa. Depois de cada praxe, íamos todos para uns barzinhos tipo discoteca horrorosos. Eis outra coisa que vim a descobrir: que odiava estas coisas. Quando chegávamos lá, ia-me logo embora; às vezes ficava uns minutinhos, mas, de preferência, lá fora, e depois acabava por ir. Era a primeira a ir. E lembro-me perfeitamente de uma rapariga me dizer: Não fizeste um esforço para te integrar com os outros caloiros, ias-te sempre embora, nunca ficavas nos bares, blá blá blá. Eu disse-lhe que toda a gente se metia a beber e que eu não tinha paciência para isso. Vim também a perceber que estes, os sociáveis e os que mais possuídos ficavam - e mais vezes -, é que eram os queridinhos dos mais velhos, os que se integravam na perfeição. Os mais tímidos, como eu, continuavam na sombra. Eu ainda fui às merdinhas das praxes algumas vezes para me tentar integrar. Saí de casa sem vontade nenhuma. E a gaja diz que não me esforcei. Sim, pois. Tipo, qual é o problema de uma pessoa detestar aqueles bares e preferir passar um serão no quentinho da casa? Parecia que, por aquela universidade, nunca tinha passado uma pessoa assim como eu; parecia que era tudo festeiro e assim. Tudo igual. Parecia que eu é que tinha um problema, porque não era como eles. E quando disse aos meus colegas que já não estava na praxe? Credo, ficou tudo com cara de tolo.
Tenho algumas memórias boas de lá, como é óbvio. Lembro-me de um jantar fixe com alguns colegas numa pizzaria mesmo boa. Até salvámos um cagarro nessa noite...eheh (vá, como não devem saber o que é um cagarro...é tipo uma gaivota. Google it). Lembro-me de parte de uma tarde numa esplanada no início das aulas, com a maioria da turma. E de um serão passado a jogar bowling, coisa que nunca tinha experimentado. Lembro-me também perfeitamente de passarmos a noite do bowling a cantar músicas da Disney e de outros desenhos animados. E dos jogos de cartas. Muitos jogos de cartas. Nos intervalos, nos furos, depois do almoço.
Mas não aguentei. Havia dias em que me sentia melhor, em que as conversas eram melhores, em que o ambiente era melhor, em que as aulas eram melhores. Mas a maioria dos dias era má. Só queria refugiar-me num canto e pedir que ninguém me chateasse.
Depois disto, comecei a preferir os meios grandes aos pequenos. Prefiro estar assim, num sítio em que ninguém me conhece, cheio de gente. Não gosto que seja tudo tão longe e tenha que apanhar transportes para ir a qualquer lado, nem dos condutores stressadíssimos nem de não ver o mar todos os dias. Mas claro que tudo tem os seus contras. E é por causa dos contras que, desde o ano passado, comecei a dar - e dou cada vez mais - valor ao sítio de onde vim.
Não me arrependo de ter feito o que fiz. Nem de ter estado naquele curso no ano passado. Foi algo que teve mais aspectos maus do que bons, mas foi uma experiência - melhor, uma má experiência. E, como tal, serviu para aprender qualquer coisa.

1 comentário:

  1. talvez por eu regressar à minha aldeola todos os dias ainda não lhe dou valor nenhum mas a verdade é que adoro adoro o Porto, ter tudo perto e mim a cinco minutos, basta apanhar o metro, um autocarro ou até mesmo ir a pé :)
    quanto à praxe, tmb nunca tive paciência para acarretar ordens de quem quer que fosse e na minha faculdade algumas pessoas pensavam que o traje as tornava maiores, coisa que não acontece feliz ou infelizmente. claro que tmb passei lá alguns momentos engraçados mas não me arrependo de ter saído ao fim de três semanas.

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