03/11/2014

Das asneiras sobre alimentação que vejo por aí

Como disse há uns posts atrás, se há algo que o meu curso me tem ensinado e que me sabe bem, este algo é o ser capaz de corrigir aqueles que acham que sabem tudo, os que fazem más escolhas, os que dizem coisas que vão contra aquilo que aprendi, entre outros que tais. A pedido de algumas famílias, serve este post para dar a minha opinião acerca de algumas das asneiras que vejo, ouço ou leio pela internet - blogosfera incluída - e nas revistas. Apenas peço que não me ataquem com conversas do género Mas o meu nutricionista disse-me que devia fazer isto e aquilo! - porque é claro que toda a gente acredita mais no nutricionista, e não na simples estudante que para lá caminha, coisa que me deixou de pé atrás em relação à escrita deste post; mas, ao mesmo tempo, vi-me cada vez mais na necessidade de o escrever. Há quem tenha uma opinião diferente e, portanto, métodos diferentes, os quais ainda não consegui entender, uma vez que vão contra tudo aquilo que tenho aprendido. Isto, reforço, é a minha opinião pessoal, tendo em conta aquilo que tenho aprendido ao longo do curso. 



Comer apenas fruta ao lanche
Sempre que pesquiso alimentação saudável ou outros termos semelhantes em motores de busca, surgem imagens de pratos de fruta todos coloridos, como se, para termos uma alimentação saudável, tivéssemos apenas que comer a maior quantidade de fruta possível. No entanto, comer somente uma peça de fruta a meio da tarde ou da manhã não é assim tão bom por duas razões. Primeira: a glicemia sobe muito. Segunda: passado um tempinho, a pessoa está com fome outra vez. Costumo dizer que a fruta abre um buraco no estômago, por causa disso.
Comer fruta ao lanche, sim, mas não de forma isolada. O ideal é combiná-la com um fornecedor de hidratos de carbono, como um pão ou umas bolachas de água e sal. Desta forma, para além de não haver uma subida tão grande da glicemia - particularmente importante para os diabéticos -, a pessoa sente-se mais saciada. Adeus, buraco no estômago.


Cortar nos hidratos
Esta é aquela que mais vejo por aí. Os hidratos de carbono devem fornecer pelo menos metade da energia de que necessitamos diariamente. Deixar de comer os seus grandes fornecedores - pão, massa, arroz, entre outros - é algo que, para mim, não faz o menor sentido. Nem sequer faz sentido nos casos em que a pessoa tem que perder peso. Toda a gente tem a ideia de que estes alimentos engordam muito. Não sei porquê. Mas querer perder peso não implica deixar de comer certas coisas, ainda para mais coisas tão importantes como os fornecedores de hidratos de carbono. Querer perder peso implica reduzir a quantidade de calorias que a pessoa normalmente ingere, e isto não significa cortar em certas coisas, mas em comer menos quantidade de determinadas coisas. Claro que existem pontos estratégicos onde a pessoa tem mesmo que cortar, como é o caso do açúcar - de adição!, e não aquele que existe naturalmente nos alimentos. Mas daí até a pessoa ser obrigada a deixar de comer alimentos que são a base da alimentação, vai um passo muito grande, para não falar de um enorme sacrifício que não faz qualquer sentido. 
A base da alimentação saudável é o equilíbrio e a diversidade. Basta olharmos para a roda dos alimentos e ver o tamanho da fatia dos alimentos fornecedores de hidratos. Faz sentido cortar nos alimentos que ocupam uma fatia tão grande? Não, não faz. No máximo, faz-se uma maior restrição. Mas, cortar completamente? Isso nunca.
Uma coisa é certa: se eu, algum dia, precisar de emagrecer alguém, não vou deixar que esse alguém passe fome. Este Verão, a minha mãe pediu-me que lhe fizesse um plano para perder algum peso. Ela estava a ficar com uma barriga horrível, apesar de estar dentro do seu peso normal, pelo que alinhei. Fiz-lhe um plano com menos de 2000 calorias diárias, mas com o qual não estava lá muito confiante. Há uns dias atrás, disse-me que se sentia muito menos "inchada" e que tinha voltado a caber numas antigas calças de ganga. E isto deixou-me contente.


Toda a gente deve beber 1,5l de água por dia
Errado. Isto não se aplica a toda a gente.
Primeiro, existem patologias em que as pessoas têm que fazer restrição de líquidos, não podendo beber mais de 1,5l, e outras em que devem beber pelo menos 3l. Segundo, mesmo nas pessoas que não estão doentes, a quantidade de líquidos que devem beber por dia pode variar. As pessoas têm que beber o suficiente para que a sua urina fique incolor e inodora. Para que isto aconteça, algumas pessoas, de facto, não precisam de mais de 1,5l, mas outras podem precisar de mais quantidade. Nem toda a gente é igual, não é?
E, claro, a bebida de eleição deve ser sempre a água. Água dita "normal", e não as "águas com sabores", que se assemelham mais a refrigerantes do que a água, tal é a quantidade de açúcar que contêm.


Não beber leite
Passei-me quando vi esta há uns dias atrás. Principalmente porque estava toda a gente a acreditar.
O leite é um alimento riquíssimo em nutrientes, pelo que tem todo o meu apoio; ou melhor, o facto de as pessoas beberem leite tem todo o meu apoio. É óbvio que não se deve abusar, mas isto aplica-se a tudo. Por isso, se uma pessoa já está habituada a beber a sua canequinha de leite ao pequeno-almoço, por quê retirá-la? É só uma canequinha; não é o pacote inteiro! 
Mais uma vez, a base da alimentação saudável é a variedade e o equilíbrio. Para mim, ter uma boa alimentação significa comer de tudo um pouco. E o leite, claro está, faz parte deste de tudo um poucoÉ que é um alimento que já está tão enraizado no nosso quotidiano, que retirá-lo de um momento para o outro com o argumento de nos fazer mal por qualquer razão é algo que não me entra na cabeça. Na minha opinião, beber refrigerantes todos os dias, por exemplo, consegue vir a ser mais prejudicial do que beber uma canequinha de leite todos os dias.
Está bem, há quem ache estúpido beber leite de vaca porque o Homem é o único animal que bebe leite de outra espécie. Mas, pegando no meu exemplo anterior, o Homem também é o único animal que bebe refrigerantes. O único animal que come carne cozinhada. E que come, sei lá, manteiga ou açúcar. Comparar o Homem com os restantes animais não faz muito sentido. Primeiro, porque levamos uma vida totalmente diferente da dos outros animais. Segundo, comemos o que comemos porque adquirimos capacidade de fabricar os produtos que hoje existem. Voltando ao leite, bebemos leite porque aprendemos a retirá-lo. Se os outros animais também soubessem retirar o leite de outras espécies, provavelmente também o beberiam.
Respeito, contudo, quem tem as suas razões para não beber leite. Seja por não gostarem, por acharem estúpido, ou por outro motivo qualquer. Mas ver uma pessoa, que gosta de leite e que já está habituada a bebê-lo diariamente, a fazer o sacrifício de retirar o leite da alimentação só porque apareceu alguém a dizer que o leite faz mal e que ninguém devia bebê-lo...isso já é um exagero. Se gostam, se não dispensam a sua caneca e se têm a sorte de tolerar a lactose, pois que o bebam. Apenas não abusem - trocado por miúdos: não bebam um pacote inteiro todos os dias.

4 comentários:

  1. Excelente e excelente post, da água é eu que não tinha lá muita noção, mas dos restantes estava correta.
    Não me queres fazer um plano como à tua mãe? Estou a brincar ahaha :)) De certo que serás uma excelente nutricionista :))

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  2. Bem verdade. Eu sou apologista de uma alimentação equilibrada. Comer de tudo. Passo-me quando vejo amigas minhas a cortarem em certas coisas porque "faz mal"...

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  3. Podia ter escrito um post exactamente igual! Tenho as mesmas convicções que tu :)

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  4. muito bem.. este post está muito bem escrito.. Eu há uns anos fui a uma nutricionista que me explicou as coisas como tu e assim não cair em erros estúpidos..

    kisses***

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